Judeus no mundo

ARGENTINA


A Argentina é o segundo maior país na América Latina, atrás apenas do Brasil, mas contém a maior população judaica da região.

A partir do século XVI, após a expulsão dos judeus da Espanha, em 1492, marranos vieram para a Argentina. No entanto, estes foram assimilados pela população local, perdendo sua identidade judaica. Assim, no início do século XIX, restavam pouquíssimos judeus no país.

Esta situação mudou quando Napoleão invadiu a Espanha, em 1808, e substitui o Rei de Espanha por seu irmão mais velho, José Bonaparte. Criou-se um vácuo de poder durante a confusão das guerras napoleônicas e a elite portenha aproveitou-se disso para tomar o poder e livrar-se da influência da metrópole. Em 1810, alguns eventos que ficaram conjuntamente conhecidos com a Revolução de Maio levaram à deposição do vice-rei. A independência só seria declarada seis anos depois.

Bernardino Rivadavia, primeiro presidente, apoiava políticas de livre imigração e proteção dos direitos humanos (ele oficialmente aboliu a Inquisição). Neste contexto, na metade do século XIX, uma leva de judeus, vindos especialmente da França, chegou na Argentina.

Em 1860, celebrou-se o primeiro casamento judaico na Argentina, em Buenos Aires. Dois anos depois, um minyan se reuniu para celebrar o Yom Kipur. Este minyan evolui e se transformou na Congregacion Israelita de la Republica.

No fim deste mesmo século uma nova onda de imigrantes chegou, atraída pela política de portas abertas da Argentina. Eram judeus que vinham da Europa Oriental, especialmente da Rússia, fugindo da pobreza e dos pogroms. Muitos se estabeleceram nas cidades. Outros, no entanto, adquiriram terras no interior através da JCA, do barão Maurice de Hirsch, tornando-se agricultores argentinos.

Entre os 1906 e 1912, 13.000 imigrantes chegaram por ano à Argentina. A maioria era de origem Ashkenazi, mas havia alguns vindos do Marrocos e do Império Turco-Otomano. Em 1920, já havia 150.000 judeus no país. Mais imigrantes vieram, com a ascensão do nazi-fascismo na Europa.

Ataques anti-semitas na Argentina não eram comuns, mas após a Revolução Russa de 1917, sentimentos anti-comunistas evoluíram para anti-semitismo contra os Rusos (os judeus ashkenazim). Em Janeiro de 1919, uma greve geral em Buenos Aires acabou transformando-se em um pogrom. Muitos judeus foram espancados e tiveram suas propriedades roubadas ou queimadas.

Apesar de não poderem trabalhar no governo e no exército e de algum anti-semitismo, os judeus integraram-se à sociedade argentina. Muitos se tornaram manufatureiros, profissão ocupada, geralmente, por imigrantes. Uma imprensa e um teatro Yiddish surgiram na capital, além de um hospital judaico e de diversas organizações sionistas.

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, Juan Perón elegeu-se presidente da Argentina, o que preocupou a comunidade judaica, devido às inclinações fascistas de Perón e sua simpatia pelo nazismo. Perón interrompeu a imigração judaica, introduziu instrução católica nas escolas públicas e abrigou muitos criminosos de guerra no país. Por outro lado, expressou simpatia pelos direitos judaicos e estabeleceu relações diplomáticas com Israel, em 1949. Desde então, mais de 45.000 judeus já fizeram alyiah.

Perón foi deposto por uma junta militar de ideologia nacionalista católica em 1955. Segui-se uma nova onda de anti-semitismo. Em 1960, agentes do Mossad seqüestraram Adolf Eichmann (oficial nazista da SS que planejara a Solução Final), que vivia sob o nome falso de Ricardo Klement e levaram-no para Israel. No ano seguinte, Eichmann foi julgado por um tribunal israelense, condenado e enforcado. Isso aumentou o anti-semitismo vigente.

Perón foi reeleito em 1973, mas morreu no ano seguinte. Sua terceira esposa, Isabel, assumiu o poder, mas foi deposta por outra junta militar, em 1976. Os judeus foram alvo de seqüestro e tortura pelo governo. Das 9.000 vítimas do estado conhecidas, 1.000 eram judias. De acordo com o Jerusalém Post, o governo de Israel tinha um acordo especial com o governo argentino que permitia que judeus presos por crimes políticos emigrassem para Israel. Com o declínio da ditadura militar, especialmente nos anos de 1982-83, o anti-semitismo também decaiu.

Em 1983, Raul Alfonsin foi democraticamente eleito presidente. Ele tinha o apoio da comunidade judaica e colocou vários judeus em altas posições no governo.

Em 1988, uma lei contra o racismo e o anti-semitismo foi aprovada pelo parlamento argentino.

Em 1989, Carlos Saul Menem foi eleito presidente. Isto preocupou alguns judeus, por causa de suas origens árabes (seus pais eram sírios) e de sua simpatia por Perón. Cabe notar que Menem teve que se converter ao catolicismo para tornar-se presidente, uma exigência da constituição Argentina, que foi derrubada em 1994 e que Perón ainda é popular entre a população Argentina.

Estes medos revelaram-se falsos. Menem também nomeou diversos altos funcionários judeus, visitou Israel várias vezes, ofereceu ajuda para mediar o processo de paz árabe-israeli e, quando um cemitério judaico foi vandalizado em Buenos Aires, expressou ultraje e, em uma semana, apreendeu os responsáveis. Menem também ordenou que fossem abertos os arquivos argentinos relacionados ao papel do país como refúgio de nazistas.

Mesmo com a democracia e a simpatia do presidente, a comunidade judaica da Argentina foi alvo de dois grandes ataques terroristas na década de 90. A embaixada israelense foi alvo de um ataque a bomba, em 1992, que matou 32 pessoas e a AMIA (organização central da comunidade judaica argentina) foi alvo de um segundo ataque, em 1994. Uma van carregada de explosivos chocou-se contra o prédio da instituição, matando 87 pessoas e ferindo mais de 100. O Irã era suspeito de envolvimento, mas mesmo com a ajuda da polícia local não se acharam os culpados. Em 2005, um promotor argentino declarou que o ataque à AMIA fora realizado por um suicida libanês de 21 anos que pertencia ao Hezbollah.

Entre os anos de 1999 e 2002, a Argentina sofreu uma crise econômica muito forte, o que fez com que muitos judeus deixassem o país e fossem para Israel. Hoje, cerca de 250.000 judeus vivem no país. Destes, 200.000 vivem em Buenos Aires, 20.000 em Rosário, 9.000 em Córdoba e o resto vive ou em pequenas comunidades rurais ou nas cidades de Concórdia, La Plata (onde já existiu um snif da Chazit Hanoar) e Mar del Plata. A maioria da população é ashkenazi, mas cerca de 15% é sefaradi.

Em Buenos Aires, existem 50 sinagogas ortodoxas, 21 conservadoras e algumas poucas reformistas. No total, há 70 instituições de ensino e cemitérios judaicos no país. A comunidade enfrenta problemas financeiros e muitas instituições perderam membros que não podem mais pagar seus serviços ou estão sofrendo cortes em seus orçamentos.

Buenos Aires também tem um bairro tradicionalmente judaico, o Once, onde se localizam sinagogas, clubes e um centro cultural. Funciona, também, na cidade, desde 1962, um seminário conservador para formação de rabinos. Em 1992, a primeira mulher recebeu sua smichá (ordenação). Buenos Aires também tem um dos 4 últimos jornais em Yiddish do mundo. Os outros são impressos em Paris, Tel Aviv e Birobidjan, na Sibéria.